Gwen Moffat: o espaço debaixo dos nossos pés
Foi talvez tarde demais que percebi que é suposto divertirmo-nos. Que não é suposto a vida ser só trabalho e que no final do dia não nos devemos sentir obrigados a seguir um caminho tradicional. O outro lado é que devemos também estar dispostos aos sacrifícios que implica ser nómada ou ter o privilégio de escolher que trabalhos aceitamos ou não. Foi ao ver um episódio Operation Moffat, um pequeno filme inspirado na autobiografia Space Below My Feet montanhista Gwen Moffat, criado pela montanhista Claire Carter e a sua amiga Jen Randall que percebi que existem opções. E, que inevitavelmente essas opções nos conduzem a pessoas e a locais. O eterno dilema da ação – consequência ou que o mundo é muitas vezes cinzento e não preto/branco.
Gwen Moffat foi uma das primeiras alpinistas inglesas. Em 1945 deserdou e foi viver no País de Gales e Cornualha, escalando e vivendo com praticamente nada. Foi a primeira mulher a qualificar-se como guia de montanha e assume que o apelo das montanhas a impediu sempre de ter um trabalho “estável”. O espaço ilimitado, a ausência de barulho (não o silêncio, porque existe sempre som nas montanhas) e a solidão, mas ainda melhor, “só uma companhia: a outra pessoa na ponta da corda, com quem existe um laço que transcende qualquer outra relação: confiança, fé e uma intimidade que é assexuada, mas essencial porque em última instância somos responsáveis pela vida do outro”, foram alguns dos atrativos.
Gosto da citação ‘Home was to become the place where I pitched my tent’ e quando lhe perguntam no filme se sente saudades das montanhas gosto que a resposta seja negativa. Porque, como a própria afirma, “vivi uma vida que mereceu ser vivida. E sei que as montanhas estão lá. E eu já estive lá.”. Pelos vistos Gwen percebeu bem antes de mim que é suposto divertirmo-nos.