Companhia Portugueza de Chá: um elogio à arte de servir
Respeitando a verdadeira tradição japonesa, na Companhia Portugueza do Chá a atenção ao detalhe está patente por todo o lado. Até no serviço.
Este texto era para ser sobre a Companhia Portugueza do Chá. Só isso. Tinha tudo pensado: ia entrevistar o proprietário (Sebastian Filgueiras), tirava umas fotografias e estava feito. Mas depois conheci a Catarina. Compreendam bem isto, porque é importante: a Catarina está na loja, na rua Poços dos Negros, em São Bento, a atender pessoas, como eu. Pessoas que fazem perguntas, que aceitam o chá que lhes é oferecido quando entram e que além de contemplarem o espólio da loja, querem saber tudo, muitas vezes, provavelmente, para trazerem pouco. Mas isso não interessa nada. Para a Catarina o que interessa é aprender, provar todos os chás da loja e fazer com que quem entra goste tanto de chá como ela. Por isso mesmo, isto já não é só um texto sobre a Companhia Portugueza do Chá. Isto é um elogio à arte de servir, de tratar quem entra como se fosse o único e o melhor cliente do mundo, com quem se partilha informação privilegiada e a quem se oferece pistas para continuar a fazer a sua aprendizagem. Porque esta loja não é só de chás. Seguindo os verdadeiros princípios da cultura japonesa, em que a atenção ao detalhe e o orgulho em desempenhar um trabalho na perfeição estão presentes, com a Catarina a servir esta é também uma loja de amizades, de conversas sobre chá que podem derivar para um livro, para uma região, para uma experiência, para um blend que nunca tínhamos provado, mas que a Catarina abre e fecha as latas sem qualquer problema, dando a conhecer, a cheirar, a provar. É uma loja de chá, com inúmeros utensílios que não se encontram em mais lado nenhum, para amantes da bebida, mas também para fracos entendedores ou simples curiosos.
Com a Catarina fico a conhecer que o emblema da loja é Catarina de Bragança, pois foi ela a grande divulgadora desta bebida em terras inglesas. Aprendo que só comercializam chá em folha, que possuem mais de cem referências, e que já criaram um blend próprio a pensar em Lisboa, o Lisbon Breakfast, um chá de pequeno-almoço que mistura o Chá Branco dos Açores e o Chá do Ceilão. Com as paredes forradas por latas pequenas e grandes, de diversas cores, feitas por encomenda com folha da Flandres, descubro também que Catarina não tem favoritos. Que aqui voltou a beber chá preto e que gosta de ir experimentando os chás um a um, descobrindo novos sabores e aromas. Que uma viagem ao Japão não está fora de questão e que gosta mesmo é que os clientes entrem e sintam o ambiente. Será por coincidência que Catarina tem o nome da rainha que introduziu o chá em Inglaterra?
A provar: Chá Branco dos Açores, à venda, em exclusivo, na loja.
O que eu trouxe: Saudades de Kobe e Recordações de Siam, porque no final do dia sou uma sentimental e não resisto a nada relacionado com Wenceslau de Moraes.
Companhia Portuguesa do Chá, Rua Poço dos Negros 123, Lisboa