Um espelho negro e uma sexta-feira branca
Declaro esta sexta-feira, uma sexta-feira branca. Não compre nada e pense realmente se precisa de tudo o que tem. O futuro pode (ou não) ser risonho.
A última vez que viajei com o meu marido, vimos uma série assustadora. Mas, compreendam, era assustadora não porque tinha sangue a escorrer, vampiros atrás de pessoas extremamente inocentes ou machados a voarem. Era assustadora porque era um alerta agressivo ao nosso estilo de vida atual. Black Mirror, a série de televisão britânica criada por Charlie Brooker, é uma crítica feroz à sociedade contemporânea, com um grande foco nos efeitos colaterais da tecnologia. Nesta entrevista ao jornal The Guardian, Charlie Brooker, explica alguns desses riscos. Segundo o autor, também em entrevista ao jornal britânico, “a área entre o deleite e o desconforto, é onde se situa a minha série Black Mirror. O ‘espelho negro’ do título é aquele que se pode encontrar em todas as paredes, todas as secretárias, na palma da mão: o ecrã frio e brilhante da televisão, de um monitor, de um smartphone”.
Inspirada pela série ou simplesmente porque tenho pouca paciência e acho sempre que vivo na época errada (não me canso de dizer que não me importava de ter nascido na era dos samurais, em que o grande lema era que a vida é limitada, mas o nome e a honra podem durar para sempre), junto-me à iniciativa Buy Nothing Today, num esforço para que a black friday me passe ao largo. Na verdade, acho que não preciso mesmo de nada e talvez até já tenha coisas demais. Após analisar os prós e os contras, penso que é bastante libertador sair de casa sem o cartão de crédito. Fica aqui uma pequena lista de coisas gratuitas, a aproveitar:
Jardins e parques na cidade
A chuva
O ar
Risos e gargalhadas
Não estar sempre a olhar para o telemóvel e olhar mais para a frente
Chegar a tempo a casa
Não ter horas e nem sequer usar relógio
Fazer nada
Assumir que não nos lembramos do nome das pessoas
Ser um pouco mais rebelde (nem que seja só hoje)
Imagens da série televisiva Black Mirror, a ver em Netflix.