Entrevista: Papier Atelier
Deniz e Türker Akman explicam como uma folha de papel se pode transformar em expressões, ao mesmo tempo que partilham os seus locais favoritos em Istambul, uma cidade que corre a uma velocidade estonteante.
Não sabia que o papel se podia transformar desta maneira. Que podia dar origem a esculturas povoadas por expressões. Foi no O Apartamento, sob o motivo de um workshop, que conheci Deniz e Türker Akman, dois artistas turcos , fundadores do estúdio Papier Atelier e da revista Match-Up. A dificuldade com o inglês começa por atrapalhar um pouco a conversa e um passou-bem como saudação e não dois beijos, marca a distância entre Portugal e Istambul, a única cidade a separar dois continentes. Só quando no final da conversa Deniz, formada em sociologia e design, me pede para comer uma fatia de limão, enquanto me fotografa para reter a minha expressão, é que oiço uma gargalhada sentida. Afinal, para estes artistas o limão é um catalizador metafórico das expressões que fazemos face ao inesperado, quando reagimos à acidez do limão. Expressões que evitamos fazer no nosso dia a dia… Fui a entrevistadora mas, ao mesmo tempo, com uma simples expressão sinto-me também eu entrevistada.
Como começou a Papier Atelier?
Deniz: Eu posso começar. Na realidade, começo sempre. Foi um projeto um bocado espontâneo. No início, não fazíamos nada em papel, nem sequer deste género. Türker estava a trabalhar em arquitectura e eu escrevia para revistas e fazia colagens, existindo já uma relação com o papel. Uma noite vimos um filme e decidimos fazer uma marioneta de uma das personagens. No entanto, não sabíamos como o fazer. Türker teve a ideia de o fazermos em papel e desenharmos em 3 D. No entanto, ficou totalmente diferente daquilo que fazemos hoje em dia. Depois do primeiro, tentámos fazer mais e a nossa família acabou por nos incentivar. A partir daí começámos a criar desenhos customizados para clientes e a trabalhar com marcas, realizando vitrines e instalações. Ainda assim somos muito espontâneos.
Possuem dois backgrounds diferentes: arquitetura e jornalismo. Que influência teve esta formação?
Türker: A formação como arquiteto ajudou imenso, porque os arquitetos pensam tudo em três dimensões, sejam produtos ou casas. Na realidade, primeiro decidimos o que vamos fazer, só depois discutimos o tema, a personagem, a cena.
Deniz: Muitas vezes pesquisamos o passado da Turquia. Estes rostos são rostos da Anatólia e estamos a trabalhar a partir destes arquivos históricos porque nos oferecem imensa inspiração.
O papel é um material efémero. Não é um risco?
Deniz: Por vezes sim. As pessoas ficam com medo que se suje ou se rasgue, mas este papel é realmente forte.
Türker: Se for pintado com tinta acrílica torna-se à prova de água. Além disso, penso que está relacionado com a natureza humana. Se tratarmos realmente bem da peça como de nós, durará. Se não o fizermos terá mais tendência para se danificar. A verdade é que a primeira peça que fizemos, há 5 anos atrás, ainda está viva, apesar da nossa empregada de limpeza. Gosto do papel porque é totalmente diferente de vermos uma fotografia. Ao tocarmos nas peças e ao interagirmos com elas, a relação torna-se diferente, apercebemos-nos o quão únicas são. Ao tocarmos nas peças em papel parecem-me mais vivas do que com outros materiais.
Fazem o mesmo projeto duas vezes?
Normalmente não. O máximo são duas peças.
Qual a vossa inspiração?
Türker: Neste projeto das Sour Expressions, as pessoas e as caras. Mas temos outro projeto que tem a ver com um medo meu de infância, um inseto. Queremos transformar os insetos mais feios, num objeto de desejo. Não posso dizer que tenha só a ver com expressões ou natureza, queremos é experimentar coisas novas. O grande desafio é conseguir passar as coisas para o papel. Estamos a planear fazer filmes de animação e stop motion.
E a revista Match-up?
Como um estúdio de design estamos constantemente a desenvolver paper zines e revistas. À medida que viajamos acabamos por identificar pessoas, histórias. A revista não é tanto de lifestyle, mas uma revista sobre a vida e a cultura. É uma revista independente, publicada em Istambul, mas também vendida a nível mundial online.
5 locais favoritos em Istambul?
Baylan Patisserie: nostálgica. uma velha pastelaria, perfeita para um regresso ao passado e para beber um chá turco e provar umas deliciosas pastelarias; Karaköy Lokantası: um restaurante tradicional-moderno, onde é possível pedir “mezzes” com Raki (uma bebida alcoólica turca tradicional); MaeZae: loja de design que comercializa designers locais e internacionais; Nicole Restaurant: um restaurante de cozinha mediterrânea contemporâneo, com um terraço que permite uma vista linda sobre Istambul e o mar; Üç Yıldız Şekerleme: uma antiga loja de doces, onde se pode encontrar as deliciosas Delícias Turcas, marmeladas, doces e sobremesas especiais.
As primeiras três fotografias deste texto são da minha autoria, as restantes são da autoria de Deniz e Türker Akman.