É um pai ocupado? Fiona Faulkner explica como a alimentação infantil não tem de ser um bicho de sete cabeças.

O seu filho odeia cogumelos? Não pode ver tomate à frente? Cenouras e brócolos são seres de outro mundo que devem ser exterminados? Fiona Faulkner, especialista em alimentação infantil, tem alguns conselhos para que a hora da refeição não seja uma batalha.

Fiona Faulkner tem muito para partilhar. Um prato salva-vidas, conselhos básicos para pais ocupados mas que se preocupam e muito mais. Fundadora do programa Toddler Chef e autora do livro 25 Foods Kids Hate and Hot to Get Them Eating 24  Fiona Faulkner veio a Portugal a convite do Martinhal Cascais (o resort onde vai querer ficar sempre que fizer férias em familia) para dar um workshop de alimentação saudável a pensar nas crianças. No decorrer do workshop nasceu esta conversa, que pretende oferecer algumas pistas a pais preocupados com o que os filhos comem, mas sobretudo a ajudar a desmistificar o quão perfeitos temos de ser. Um conselho: lembre-se que a melhor dica é que vão sempre copiar o que faz. Por isso, o ideal mesmo é dar o exemplo.

Explica-nos como tudo começou?
Fiona Faulkner: O meu background é em media! Trabalhei em televisão, na área de produção, na MTV, em VH1, em rádio e depois tive o meu filho. E era realmente complicado fazê-lo comer. Por isso comecei a desenvolver jogos: fingia que o tomate era um baton, por exemplo. Tudo isto transformou a forma como o meu filho comia. Escrevi o meu livro, o agente do Jamie telefonou e é claro que isso ajudou, e levou-me à comida das crianças… Sou naturalmente vegetariana e acho que comemos demasiada carne. Mas o meu filho é um carnívoro assumido, enquanto a minha filha também é vegetariana. Penso que o melhor que podemos fazer como pais é dar o exemplo.

Acha que devíamos cozinhar mais?
Fiona Faulkner: Penso que uma das situações que existe é que estamos a ficar mais ocupados como pais. Trabalhamos, a vida é super extenuante e é complicado equilibrar tudo. É tão exigente…até para mim – e eu adoro cozinhar! Por vezes dou comigo a pensar porquê importar-me… mas a verdade é que quando cozinhamos do zero apercebemo-nos da quantidade de sal e de açúcar que colocamos e quando comida já feita não sabemos o que vem lá dentro. Muitas vezes o que comemos num restaurante não passa de junk food. Por vezes é mesmo chocante. São cachorros quentes, hambúrgueres, hidratos de carbono, hidratos de carbono, hidratos de carbono e açucares… e hidratos de carbono convertidos em açucares…

E é possível alcançar um equilíbrio com as crianças?
Fiona Faulkner: Quando tinha só uma criança era a mãe perfeita. Ainda por cima não trabalhava, por isso tinha tempo. E depois tive gémeos e esqueçam. Não queremos tornar a comida uma questão. Muitas vezes oiço os pais dizer: “come todos os teus vegetais que depois dou-te uma sobremesa”. Primeiro: não é bom encorajar as crianças a comer demais e a serem obrigadas a “limpar” o prato. E, a verdade, é que tenho tendência a fazê-lo mesmo como adulta: a sentir-me obrigada a comer tudo o que tenho no prato, muitas vezes mesmo que já não tenha fome. Por isso é importante ensinar as crianças a não comerem demasiado, a não as subornar. Não queremos que as crianças vejam os vegetais como algo mau e a sobremesa como algo bom. A minha resposta é sempre tratarem a sobremesa como o próximo prato. Em vez da recompensa. E depois é tentar jogar com o equilíbrio. Dizer às crianças: “Ok. Podes comer uma sobremesa por dia, mas não podes comer açúcar ao pequeno almoço e açúcar a todas as refeições”. Trata-se de moderação. Tudo com moderação, incluindo a moderação. Não queremos ser fundamentalistas.

Por vezes acho que consumimos demasiado açúcar, mas estou confortável com o açúcar principalmente quando fazemos bolos. Mas sempre que posso escolho fontes naturais de açúcar, como o agave . Mas acho que quando cozinhamos em casa, tendemos sempre a usar menos porque temos noção e vemos as quantidades que estamos a colocar.

E os pais solteiros?
Fiona Faulkner: Os pais solteiros, que trabalham a tempo inteiro ou têm menos tempo, não se devem sentir reduzidos. Porque é difícil. E é importante por vezes simplificar. Se não der para fazer o pesto de raiz, então comprem o pesto e depois misturem os espinafres.

E as crianças na cozinha? Acha que é importante que as crianças cozinhem?
Fiona Faulkner:
Claro que sim! Para as crianças é sempre mais interessante comerem aquilo que fizeram. E, caso achem que não têm tempo, pensem que podem sempre reservar um dia por semana, uma tarde, uma hora. Ou se houver um avó que adore cozinhar, motivem isso, pode até ser uma forma de criar laços. Não tem que ser todas as noites. Nem sequer todas as semanas. Mas, acredito que as crianças estarão sempre mais recetivas a experimentar algo que ajudaram a fazer, nem que seja só um pouco, e ajuda a gerar a sua confiança.

É importante a forma como apresentamos um prato?
Fiona Faulkner:
Claro que sim. As crianças comem com os olhos, com os ouvidos, com as cabeças. Se não gostarem do que veem, muitas vezes nem sequer vão querer experimentar. Para elas o sabor vem em segundo lugar. Por exemplo, um peixe verde pode ser uma questão, porque podem associa-lo com um vegetal que não gostem. Por isso, a apresentação é importante.

Qual o ingrediente favorito quando cozinha para crianças?
Fiona Faulkner:
Penso que provavelmente a abóbora ou a abóbora manteiga  porque é tão versátil e bastante doce. Pode ser cozinhada e servida, pode ser cortada e incorporada num smothie, num molho. Outro truque engraçado é dizer às crianças que vamos fazer um corte de cabelo aos brócolos e pode ser cortado em pequeninos pedaços para uma massa, uma salada e eles podem fingir que estão a cortar o cabelo.

Experimente este prato salva vidas de Molho de Queijo

Ingredientes
50 g de manteiga
50 g de farinha
100 g de leite

Preparação
Junte tudo e mexa até ficar mais denso. E fica com um molho básico. Depois acrescenta o queijo, talvez ervilhas congeladas e até o corte de cabelo dos brócolos. É perfeito para um molho para uma massa.