Porque é irritante as revistas femininas dizerem o que temos que fazer e por que é que às vezes mais vale ler banda desenhada

Isto é um manifesto sobre merecermos mais por parte das revistas femininas, por que é tão irritante falarem connosco como se fossem donas da verdade e por que às vezes mais vale ler uma boa banda desenhada que não nos manda emagrecer, nem nos quer ensinar os últimos truques para seduzir alguém

Oiça agora. Afinal, eu sei do que falo porque trabalhei numa. As revistas femininas têm a sua graça. Não se cansam de nos dizer o que devemos fazer, usando sempre imperativos e instigando um sentido de urgência. “10 coisas que tem de fazer hoje”. “Os legumes que tem de comer agora”. “Os 23 exercício para perder barriga”. “10 mandamentos para conquistar um homem”. A parte triste é que as revistas de hoje cobrem exatamente os mesmos assuntos que há 30 anos atrás. Pior. É cíclico. Em outubro falamos de cabelo. Em setembro do regresso ao trabalho. Em janeiro de novas atitudes. E isto foi só para dar um exemplo. Se quiserem faço-vos o alinhamento do ano inteiro e vocês vão comprovando.

É tudo igual?
As revistas masculinas tratam as mulheres como objetos. As femininas também. Em ambas as revistas, as mulheres são praticamente paisagem. Um ornamento. Podem ler o que Alex Bilmes, o editor da Esquire (que eu adoro, já agora) tem a dizer sobre o assunto. Que as revistas masculinas não estejam interessadas nos nossos cérebros até compreendo, mas as revistas femininas?

Devíamos mudar a forma como contamos a história
Não me interpretem mal. Adoro revistas. Masculinas, Femininas. De viagens. E por aí fora. O que não adoro é a forma como as histórias são contadas. Se a mulher mudou a forma como vê o mundo (e o que quer do mundo), então as histórias que queremos ler não devia também ser outras? Não deveriam ser contadas de uma forma diferentes? Afinal, o que está na ordem do dia não é que devíamos ser todos feministas? Para muitas mulheres o objetivo máximo na vida já não é casar. Já não é ser uma mãe perfeita e uma profissional perfeita. Na realidade, muitas de nós já perceberam que não querem ser perfeitas. E, já agora, só uma nota: nem todas queremos ser magras. Nem todas precisamos de ter (mesmo, mesmo) as últimas peças de roupa. Algumas de nós gostavam mesmo de ler um artigo mais desenvolvido sobre o que se está a passar do outro lado do mundo. Ou mesmo aqui ao lado.

Quando me sinto só neste meu raciocínio adoro ler este artigo publicado no Guardian, com uma lista do que a jornalista gostaria verdadeiramente de ver publicado numa revista feminina. E, já agora, eu também gostava.

Nota: caso se sinta desmotivado a próxima vez que se aproximar de uma banca de revistas, pegue antes no livro de banda desenhada com os protagonistas Blake e Mortiner: O Testamento de William S., de Edgar P. Jacobs ou até num dos 12 volumes editados pelo Público/pela ASA de Valerian.