Saloia: mas como é que ainda não foi lá?

São de Sintra, mas estão em São Bento. São irmãs, mas têm funções diferentes. No entanto, assumem que trabalham bem é em conjunto. Talvez por isso tenham como missão não ter um café normal, mas algo que alimente proximidade e relações. Não seja saloio e vá lá ver.

Não me é um sítio estranho e quando a minha prima vivia em São Bento passei inúmeras vezes à porta, na rota das nossas corridas noturnas. No entanto, a grande desvantagem das corridas noturnas é que, normalmente, está tudo fechado. E, devido a esse facto inalterável, temos mesmo de correr. As janelas de dimensão inesperada chamam a atenção e ficamos curiosos com todo o potencial que se armazena lá dentro. No decorrer dos dois anos que estão abertas, Sara e Mariana admitem que o bairro sofreu inúmeras alterações, mas que ainda é preciso trabalhar muito. A Saloia é uma mercearia, mas também é um café, um ponto de encontro, um cruzamento de tendências, um sítio a descobrir.

Porquê este sítio?
Apaixonámo-nos pelo espaço e pelo potencial da loja. Não conhecíamos muito bem esta zona mas decidimos arriscar e ainda bem!

Como decidiram avançar para este negócio?
Quando viemos viver para Lisboa, tínhamos dificuldade em encontrar um sítio perto de casa que não implicasse pegar no carro, que oferecesse vários tipos de serviços e produtos, uma “mercearia a sério” de bairro. Um local que vendesse pão fresco, legumes frescos de pequenos produtores ou biológicos, coisas para encher a despensa ou ainda um presente original e apetitoso para levar a um jantar de amigos. Juntar tudo isto num só espaço seria prático e bastante agradável.

E aconteceu…
Vendemos produtos portugueses. Achamos que a qualidade do que se faz no nosso país é boa demais para, por vezes, estar tão escondida. Tentamos ter um pouco do tradicional mas apostamos também em novos conceitos/ideias e em novas tendências. Temos biscoitos da Paupério bastante típicos e tradicionais, mas também temos biscoitos artesanais de Marvão, feitos por uma senhora em Marvão! Outro exemplo, são os sabonetes da Ach Brito, uma marca bastante antiga, mas também temos artesanato urbano, da artista Maria Rôlo que trabalha por conta própria. Tentamos sempre fazer este “equilíbrio” – tradicional versus contemporâneo e grandes marcas versus pequenas. Temos ainda a zona de serviço à mesa que tentamos sobretudo que as pessoas passem um bom bocado. Servimos todos os dias sopa feita com os nossos legumes  (que é bastante elogiada!) sumos naturais, tostas, saladas e alguns petiscos! E mais recentemente desenvolvemos uma parceria com a Saudade Flores, que vendem flores frescas todos os dias aqui na nossa loja!

O que vos diferencia de um café normal?
Tentamos ter um serviço personalizado e atencioso. A nossa grande vantagem é que caso o cliente goste realmente do que tomou pode comprar na mercearia e levar para casa! A ideia é tudo o que servimos está disponível na mercearia.  Temos também a nossa relação com os clientes. Ao longo destes quase 2 anos, criámos relações fortes com clientes e vizinhos – agora praticamente amigos – , sendo também esta proximidade e relação de amizade que nos diferencia de um café normal.

O que não podemos deixar de provar ou beber?
É preciso voltar várias vezes até provarem tudo. As nossas torradas com compota, a salada de fruta com iogurte e granola – o cliente escolhe 3 peças de fruta, nós cortamos a fruta no momento e a granola é super caseira e deliciosa. Ao almoço a sopa (feita por nós todos os dias com os legumes da mercearia) as saladas, ou a nossa tosta de cogumelos ou pasta de azeitona (também com queijo, tomate e rúcula, com azeite e orégãos). O cheesecake de framboesa ou o bolo de chocolate são sem glúten e são simplesmente maravilhosos. Ou o Pudim Abade de Priscos, um dos melhores doces conventuais que existem em Portugal.

O bairro evoluiu imenso. Que diferenças veem?
Em 2 anos as diferenças têm sido muitas. Vimos muitos apartamentos turísticos a surgirem aqui perto assim como novos estabelecimentos a abrir, tais como bares, restaurantes, entre outros. Temos observado também muitas pessoas novas a viverem viver para o bairro. Desde pessoas jovens, a estrangeiros a escolher esta zona para morar. O que só pode ser bom. Novas caras, novas histórias todos os dias!

O que ainda gostariam que acontecesse?
No bairro achamos que faz falta haver menos trânsito, uma melhor mobilidade para peões (não é uma zona fácil para quem ande de cadeira de rodas ou mesmo com carrinhos de bébe). Na loja o nosso objetivo sempre foi que este espaço fosse acolhedor e dinâmico, queremos realizar mais eventos e ter várias exposições ao longo do ano. Falta trabalharmos mais nesse sentido.

Quem vos inspira?
A força e determinação vêm da nossa mãe. O sentido prático de trabalho do nosso pai. A mana mais nova também traz mais ideias e é uma grande ajuda. “Os maridos”, sem eles seria impossível. E todas as pessoas que passaram e trabalharam na nossa mercearia também deixaram lá um pouco de si e inspiram-nos todos os dias.

Qual a vossa zona de Lisboa favorita?
Somos de Sintra e elegemos a cidade de Lisboa para viver há já uns anos. A cidade tem vários locais de interesse, cada um com a sua dinâmica e especificidade, por isso é difícil escolher só um. Destacamos alguns como Belém, Bairro Alto, Alfama, Cais do Sodré também está a crescer e a ficar uma zona muito interessante.

A Saloia: Rua de São Bento 102, 1200-816 Lisboa, telefone 21 390 1324